Defesa Civil em baixo e desordem populacional em cima
Nota: Vejam após o texto, as demais fotos
A tragédia da Região Serrana do Rio de Janeiro, provocado pelas chuvas é um fato que não é possível dimensionar as consequências futuras. O que era anunciado, não eram hipóteses e nem especulações. Vários estudos científicos foram feitos, confirmados e divulgados. Governos anteriores (atuais também), tanto estaduais, quanto municipais, além de ignorar, eram sabedores do que se poderia acontecer. Os interesses políticos ficaram acima das consciências.
As conclusões desses estudos apontavam que condições climáticas adversas, o desordenamento das populações, a falta de respeito ao meio ambiente e planejamentos com obscurantismos técnicos, fatalmente causariam o desastre, mais cedo ou mais tarde. Ao grosso modo, podemos dizer que “a hora” para acontecer à tragédia era apenas a vontade de Deus.
Por causa da topografia montanhosa, os municípios atingidos nunca se recuperaram. E não é preciso ser especialista para ter essa certeza. A imoralidade e inconsciência politica serão as mesmas, mais o complexo dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições e das manifestações intelectuais, são transmitidos coletivamente e é típico de uma sociedade, isso não podemos ignorar e jamais serão afetados. Para aqueles que perderam suas vidas, nada mais significará, mais para os que tiveram prejuízos materiais, o sofrimento será longo, principalmente para aqueles que perderam, além de seus únicos bens (e não a dignidade), a confiança naqueles que os representam.
Quando tivemos na região como voluntário da Cruz Vermelha, o nosso afã, era apenas no intuito de contribuir de alguma forma, momentaneamente não enxergávamos dimensões técnicas, não era o momento e nem nossa atribuição, nem tão pouco, tínhamos formação para contestar a forma como a tragédia era tratada. Naquele momento, achávamos que todos estavam num só propósito, ajudar. Sem comportamento voluntarioso, não foi o que vimos. Figuras apareciam a todo o instante, se representando ou sendo representados em funções de lideranças que não lhes diziam respeito, quando da presença das lentes fotográficas e “televisivas” , ai é que tivemos a certeza de quanto o ser humano é capaz. Essas figuras representadas queriam ganhar créditos ou reconhecimentos de atitudes humanitárias que jamais tiveram, pois ignoraram os estudos científicos que anunciava a tragédia, na verdade, deveriam estar tentando dimensionar a valorização de suas consciências e não continuar mentindo para os sobreviventes os reais motivos da catástrofe, os valores em dinheiro perdidos e os que serão gastos na tentativa de recuperação. Mentem nos números de mortos e desaparecidos. Será que não sabem avaliar os números estatísticos anteriores? Basta ir aos municípios atingidos para saber que as perdas são maiores do que estão anunciando.
Tratando-se de populações, é que se tem a dimensão do que se esconde. O que nos fez ter atenção em números populacionais em áreas rurais, por exemplo, foi uma conversa com um agricultor sobrevivente no Município de Sumidouro (Distrito de Dona Mariana), na primeira semana da tragédia, dizia ele: -“Moço, a coisa aqui é bem pior para nós que só trabalha na terra, o patrão é coronel e ainda não apareceu por aqui. Nós vamos cobrar de quem os nossos prejuízos, tudo que plantamos tem que dividir e não somos dono das terras. Acho que ninguém sabe que existimos nesse lugar, só na hora do voto, quando chove é assim mesmo, só que a coisa agora foi pior”.
Comparando nesse único relato, então quais são os reais números? O IBGE passou recentemente nesses municípios e apresentou dados que nos deixam em dúvidas. Todos responderam ao censo/2010? Vamos comparar para saber se os números estão corretos com a realidade, para ver se é possível avaliar os prejuízos e quem deverá ter direitos das ações do governo.
Em 2004, o 1º Seminário de Gestão Participativa em Saúde da Região Serrana do Rio de Janeiro, apresentava os seguintes números da população: Nova Friburgo 176.699, Teresópolis 146.994, Petrópolis 302.477, Sumidouros 14.721 e São José do Vale do Rio Preto 21.231.
Pt/2000 Urbana Z.Rural Pt/2010 Urbana Rural Z.Rural
Nova Friburgo: 173.418 151.851 21.567 182.016 159.335 22.681 12.46%
Teresópolis: 138.081 115.198 22.883 163.805 145.473 18.332 11.19%
Petrópolis: 286.537 270.671 15.866 296.044 281.356 14.688 4.96%
Sumidouro: 14.176 2.334 11.842 14.920 5.458 9.462 63.42%
S. J.V.Rio Preto: 19.278 9.000 10.271 20.252 9.005 11.247 55.54%
Os municípios de Sumidouro e Petrópolis foi o que mais nos chamou atenção em comparações aos censos 2000/2010.
Na totalidade, Sumidouro aumentou apenas em 744 pessoas, entre 2010/2000. A área urbana aumentou de 2.334 para 5.454. A zona rural diminuiu, tinha 11.842 e passou para 9.462, perdendo 2.380 pessoas. Em 2004 a população era 14.721. A zona rural apresenta 63.42% da população. Estima-se quase 20 mil pessoas residindo naquele município, então, onde estão essas pessoas, foram recenseadas?
Petrópolis, em levantamento feito em 2004, tinha 302.477 e pelo Censo/2010 é de 296.044, perdendo 106.433 pessoas. Entre os Censos do IBGE 2000/2010 diminuiu apenas 9.513. A zona rural, que representa apenas 4.96%, também diminuiu em 1.178 pessoas. Estima-se que residem em Petrópolis quase 350 mil pessoas. É só ir lá e tirar as dúvidas, o número de casas nos morros e encostas é impressionante.
Com essa simples análise é que perguntamos, como as ações sociais chegarão para todos, se a desordem é total? Os números estão ai. A tragédia da Região Serrana é muito pior do que se imagina e veremos daqui algum tempo, alguém reclamando do desamparo porque foram esquecidos, apenas por suas pobrezas.
Ricos e pobres, todos foram afetados:
Ricos e pobres, todos foram afetados:
Os ricos
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